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O futuro da medicina está no espaço? Experimentos fora da Terra ganham força

Por| Editado por Luciana Zaramela | 19 de Maio de 2023 às 14h08

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ESA
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Pesquisas médicas, especialmente as que envolvem remédios e o cultivo de proteínas necessário para estudar patógenos e as doenças que causam, são difíceis de se fazer na Terra. É que a gravidade não ajuda nos processos microscópicos e muitas vezes o resultado pode não refletir a realidade com precisão o suficiente. A alternativa? Realizar experimentos no espaço. O problema é que viagens espaciais são caras, geralmente necessitando da iniciativa privada para levar à cabo pesquisas longe da atmosfera do planeta.

Empresas como a SpaceX têm levado, nos últimos anos, pequenas caixas de metal envoltas em painéis solares em seus foguetes, deixando as células em seu interior realizarem os processos requeridos pelos cientistas antes de voltar à Terra, trazendo descobertas importantes para o tratamento de doenças como a leucemia, além de revelações menos urgentes e mais curiosas, como maneiras mais eficientes de cultivar carne em laboratório.

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Tecnologia e miniaturização

Um dos passos importantes para facilitar a pesquisa feita no espaço foi dado pela companhia SpacePharma, que permitiu, através de novas tecnologias, a miniaturização dos mais diversos experimentos biológicos. São caixas de microorganismos e proteínas enviadas à Estação Espacial Internacional (ISS) e controladas remotamente pelos cientistas, confortáveis em Terra.

Em 2022, a empresa conseguiu garantir 7 experimentos em órbita, e o número só cresce. Em apenas um mês, o plano é realizar 5 experimentos, indo de remédios para longevidade e doenças neurológicas até produtos inovadores de skincare.

Testes como esse remontam à era espacial, quando a NASA buscou encaixar experimentos científicos na agenda dos astronautas para ajudar a justificar os até 50 voos espaciais anuais planejados. Na Terra, a gravidade acaba mascarando a forma com que algumas células se comunicam, o que complica nosso entendimento desses processos.

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É difícil, por exemplo, manter células-tronco em seu estado mais “puro” por longos períodos, encorajando-as para que se desenvolvam. As estruturas cristalizadas complexas de algumas proteínas ligadas ao câncer, a vírus ou problemas genéticos e cardíacos são mais difíceis de ser estudadas em Terra, já que seus cristais são frágeis e difíceis de se cultivar, o que é útil para analisar a evolução de tumores e doenças virais.

Com uma gravidade baixa o suficiente para não puxar essas células, mascarando sua real aparência e funcionamento, é muito mais fácil estudá-las.

Os cristais também crescem mais no espaço e apresentam menos imperfeições, facilitando nosso entendimento dessas estruturas. Simulações computadorizadas até podem dar uma ideia de como as estruturas 3D de proteínas e cristais seriam, mas modelos precisos só podem ser criados com uma quantidade enorme de dados, o que a ciência nem sempre tem — e busca descobrir no espaço.

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O que já descobrimos em órbita

Um dos avanços que a falta da gravidade já nos trouxe é uma série de medicamentos contra câncer de ovário e de mama, traumatismo craniano, Parkinson e influenza, tudo graças a estudos baseados na família de proteínas TMBIM feitos na ISS nos últimos 4 anos.

Essas proteínas ajudam a regular o ambiente interno de células, que fica tóxico quando algumas doenças, como câncer e condições neurodegenerativas, agem — mas pode ser revertido com os remédios certos e o conhecimento de como fazer isso, o que temos conseguido descobrir em órbita.

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A ciência também enfrentou problemas e tragédias em voos para fora da Terra. Em 2003, o ônibus espacial Columbia explodiu na reentrada, levando a óbito os 7 astronautas que o tripulavam. Três meses depois, diversos frascos foram encontrados entre os destroços, contendo cristais intactos de alguns experimentos levados pela equipe.

Com isso, foi possível descobrir informações muito importantes acerca da proteína interferon alfa-2b, um ingrediente ativo no medicamento Intron A, parte do tratamento padrão para melanomas e hepatite B à época. Mesmo com a tragédia, grandes avanços ainda foram possíveis à ciência, o que também trouxe algum alento às famílias das vítimas.

O futuro da medicina no espaço

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Com o crescimento dos experimentos espaciais dos últimos 4 anos, as expectativas para pesquisas seguintes são altas. Uma das áreas mais promissoras na medicina, mas cujos avanços andavam decepcionando pela sua demora, é a das células-tronco. Custoso e ineficiente, o processo de cultivá-las acaba não valendo muito a pena, já que há dificuldade de integrar células de órgãos cultivados ao corpo de pacientes. Um dos problemas está na qualidade das células.

Pesquisas recentes na ISS mostraram que as células-tronco crescem melhor em órbita do que em Terra, o que pode levar a avanços grandes na área. A questão é que ainda é necessário um benefício muito grande para tornar o cultivo em órbita prático, já que é bastante caro levar as células para o espaço.

O custo fica em torno de US$ 7,5 milhões (cerca de R$ 37,19 milhões), especialmente considerando o tempo do astronauta, geralmente coberto pela NASA ou por verbas de pesquisa científica. Os cientistas, inclusive, disputam pela chance levar seus experimentos ao espaço.

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Atualmente, o campo espacial vem sendo dominado por empresas privadas — embora os interesses sejam diferentes, com maior foco em passeios espaciais para os mais ricos, isso pode acabar barateando as viagens para a órbita, ajudando pesquisadores a levar seus experimentos para ambientes melhores.

Algumas companhias, como a SpacePharma e a Ice Cubes, buscam automatizar o processo e levar experimentos para órbita baixa, em foguetes que sobem apenas pelo tempo necessário à pesquisa e logo retornam. Isso removeria, por exemplo, a necessidade de utilizar a ISS e aumentaria a quantidade anual de lançamentos.

Se o futuro no reserva o cultivo de órgãos e até membros a partir de células-tronco em satélites orbitando a Terra, como na ficção científica, isso dependerá de como a tecnologia e, principalmente, o interesse e incentivo científico evoluirá — podemos estar próximos de uma segunda era espacial, uma focada, desta vez, na medicina.

Fonte: The Guardian